Inês de Castro
Dama galega com ascendência real (bisneta de Sancho IV o Bravo de Castela), nasceu em Limia na Galiza entre 1320 e 1325, filha de D. Pedro Fernández
El de la Guerra de Castro, señor de Castro Xerez, mordomo-mor de Alfonso XI de Castela, e de Aldonça Lourenço de Valadares dama nobre portuguesa.
Em 1339 acompanhou a Infanta D.Constança Manuel de Castela a Lisboa, para o casamento daquela com o infante D.Pedro, filho de D.Afonso IV e D.Beatriz de Castela.
Assim que viu D.Inês, D.Pedro apaixonou-se imediatamente por ela, desleixando os seus deveres para com a mulher.
O rei D.Afonso IV lidava mal com amores fora do casamento.
Sentira na pele os problemas causados pelos bastardos do pai, o rei D.Diniz, tendo levantado armas contra o Pai e os irmãos.
Depois de subir ao trono, encarregou-se de os afastar da corte, a qual, pela primeira vez, conheceu um período de moralidade incomum.
D.Afonso IV reprovava a vida do filho com Inês de Castro, com quem teve, de rajada, 4 filhos, D.Afonso (morreu em craiança), D.Beatriz (1347-81), D.João (1349-87) e D.Diniz (1354-97).
D.Constança sofria com as infidelidades do marido e, para afastar dele Inês, até a convidou para madrinha do seu primogénito, o infante D.Luis, criando assim um laço de parentesco moral de tipo quase incestuoso que, supostamente, afastaria a rival adúltera do marido.
De nada serviu o esquema e os dois amantes continuaram a viver ostensivamente juntos.
Para mais, o infante morreu pouco tempo depois, fazendo desconfiar que Inês estaria por trás dessa morte, para colocar no trono a descendência que viesse a ter com D.Pedro.
D.Afonso não aceitava igualmente a grande amizade que D.Pedro estabeleceu com os irmãos de D.Inês, D.Fernando e D.Álvaro Perez de Castro e a suposta influência pró-castelhana que aqueles exerciam sobre o filho.
Em 1344 decidiu exilar D.Inês para a vila de Albuquerque, pertença de um seu meio-tio.
Em 1345 morre D.Constança, de parto do filho, o futuro rei D.Fernando.
D.Pedro, à revelia do Pai, chama Inês do exílio e, desafiando o rei, vive abertamente com ela.
Recusa todas as propostas de casamento real que o Rei lhe apresenta, respondendo que ainda sentia muito a morte da mulher
O nascimento dos filhos de Inês de Castro, fortes e robustos, contrastando com o franzino e doente D.Fernando, filho legítimo de Pedro e Constança, veio criar uma crise sucessória, com vários nobres a queixarem-se ao Rei que os Castro estavam a conspirar para que o trono passasse para o filho mais velho de Pedro e Inês.
Apesar de não haver qualquer evidência de que tal plano estivesse a ser gizado, D.Afonso IV, a bem da Nação, decidiu tomar uma opção radical - eliminar Inês.
Correndo o boato que D.Pedro e D.Inês se tinham casado em segredo - mais tarde D.Pedro confirmou-o na célebre Declaração de Cantanhede, D.Afonso mandou dizer ao filho que não se opunha ao casamento se D.Pedro assim o desejasse.
Compreendendo que se tratava de uma cilada do Pai, D.Pedro mandou dizer que não estava interessado em casar com Inês.
Aproveitando uma ausência de D.Pedro do Paço de Santa Clara, em Coimbra, onde então vivia o casal, em Janeiro de 1355, D.Afonso dirigiu-se ao paço com três homens da sua confiança, Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves, Diogo Lopes Pacheco, com intenção de matar Inês.
Esta protestou a sua inocência e atirou-se aos pés do Rei, pedindo clemência para ela e para os filhos, mas o Rei mostrou-se irredutível e mandou decapitar a infeliz Inês cuja única culpa foi a de amar e ser amada pelo príncipe D.Pedro.
Inês de Castro com os filhos perante D.Afonso IV
Quando soube da execução de Inês, D.Pedro ficou louco de raiva e pegou em armas contra o Pai, numa guerra civil em que os partidários do Rei e do Príncipe se combateram sem piedade.
Por intervenção da Rainha D.Beatriz, pai e filho acabaram por se entender em Agosto de 1355.
Em 1357 morre D.Afonso IV e D.Pedro sobe ao trono.
Entre as primeiras medidas que tomou conta-se a perseguição e prisão dos assassinos de Inês.
Diogo Lopes Pacheco fugiu para França (é o antepassado de um político actual), mas Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves foram capturados, torturados e mortos, tendo, a um, o Rei mandado arrancar o coração pelo peito, e ao outro, pelas costas, enquanto se banqueteava !
Pela Declaração de Cantanhede de 1360, D.Pedro declarou que efectivamente contraíra casamento com D.Inês, no que foi corroborado pelo seu capelão e por um criado
, legitimando assim os filhos que tivera com Inês.
Conta a lenda que D.Pedro mandou desenterrar D.Inês e sentá-la no trono, revestida de sumptuosas vestes e jóias e coroada, e obrigou toda a corte a beijar-lhe a mão
Coroação Inês de Castro e detalhe
O quadro representa o episódio macabro quando um nobre beija a mão cadavérica de Inês de Castro, morta há 6 anos, sob a vigilância atenta do rei D. Pedro de pé envergando uma armadura e manto de arminho, e disposto a castigar quem se recusasse a ir ao beija-mão.
D.Pedro mandou construir dois magníficos túmulos, obras-primas do gótico, um para si e outro para D.Inês, que estão no Mosteiro de Alcobaça, ordenando que ficassem colocados frente a frente para que, no dia do Juízo Final, quando ambos se erguessem dos respectivos túmulos, se pudessem olhar nos olhos
A história de Pedro e Inês é uma das mais românticas da Idade Média e foi mais tarde retomada por diversos autores de Camões (nos Lusíadas) a António Ferreira (A Castro) e a Henri de Montherlant (La Reine Morte).