A família de D.Duarte não recebeu nenhuma das antigas propriedades da Família Real.
Há que contextualizar.
A actual Família Real pertence ao ramo que foi proscrito em 1834, quando D.Miguel foi forçado pelo irmão D.Pedro a partir para o exílio.
Em vida do Pai, D.João VI, D.Miguel era senhor da Casa do Infantado, casa criada em 1654/55 por D.João IV a favor do seu filho segundo (sobrevivente), o futuro D.Pedro II.
Com as sucessivas doações que os Reis lhe fizeram a Casa do Infantado tornou-se uma das mais opulentas casas de Portugal, bastando lembrar que o filho segundo de D.João V, D.Pedro (que veio a casar com a sobrinha D.Maria I) pôde mandar construir o Palácio de Queluz.
Durante o reinado de D.João VI, D.Miguel, enquanto filho secundogénito, herdou o património da Casa do Infantado, que lhe permitiu viver com largueza quando oPai o enviou para o exílio em Viena.
Depois da morte do Rei, em 1826, D.Miguel só pôde regressar a Portugal em 1828 depois de longas negociações, durante as quais aceitou jurar a Constituição e casar com a sobrinha D.Maria da Glória.
Nesse ano convoca Cortes que declaram D.Pedro como estrangeiro e proclamam D.Miguel como Rei que governará até 1834, quando sai derrotado da cruel Guerra Civil que o opõe ao irmão.
D.Miguel saiu então do reino, desta vez sem quaisquer bens, vivendo do apoio de algumas famílias legitimistas e de uma pensão do Papa.
Uma das primeiras medidas de D.Pedro foi abolir a Casa do Infantado.
O ramo miguelista sempre viveu com extremas dificuldades e só as brilhantes alianças matrimoniais com casas extremamente ricas, como os Liechtenstein e os Thurn und Taxis, permitiram aliviar essas dificuldades, já que D.Miguel (II) e os filhos mais velhos, D.Miguel e D.Francisco José viviam do escasso rendimento das comissões militares no exército austríaco.
Entretanto, em Portugal, o património da Família Real centrava-se na pessoa de D.Maria II e da sua descendência Bragança-Saxe-Coburgo-Gotha.
Todas as propriedades ficaram para a família ou foram cedidas ao Estado - por exemplo, os palácios de Mafra ou Queluz.
Mantiveram-se como propriedade privada dos Bragança o Palácio de Vila Viçosa, o Castelo de Alvito e várias quintas adquiridas por D.Carlos no Alentejo onde se deslocava para caçar.
O Palácio da Pena, mandado construir por D.Fernando II, foi alvo de um enorme escândalo quando se descobriu que ele o tinha deixado, em testamento, à segunda mulher, a condessa de Edla, e só no reinado de D.Carlos o Estado o conseguiu comprar, deixando a Elise Hensler o usufruto vitalício do Chalet da Condessa, primorosa construção erigida no Parque da Pena, enquanto a Família Real usufruía do luxuoso Palácio.
Com o advento da República, as propriedades dos Bragança-Saxe-Coburgo-Gotha não foram nacionalizadas, mas uma república falida, empobrecida pela intervenção na 1ª Guerra Mundial, tudo fez para atrasar os pagamentos das rendas devidas a D.Manuel II e à Rainha D.Amélia o que provocou uma insistente e amarga troca de correspondência entre o Rei, a Rainha e os Governos.
D.Manuel usou ainda a sua amizade com Jorge V para que este interviesse e levasse o Governo português a pagar ao Rei o que era devido de forma atempada.
Quando D.Manuel morre em 1932, tudo muda.
O Primeiro-Ministro Salazar, apesar de monárquico, compreende que não há condições para restaurar a monarquia, apesar dos conselhos em contrário do seu amigo Francisco Franco que lhe sugere uma solução idêntica à espanhola, com a vantagem de o pretendente português ser menos problemático que o conde de Barcelona.
Salazar convence as duas rainhas-viúvas D.Amélia e D.Augusta Vitória a renunciar à maior parte das propriedades fundiárias, que serão reunidas na Fundação da Casa de Bragança, uma fundação com fins culturais, religiosos, artísticos e sociais, com objectivos de beneficência e de utilidade pública, numa abusiva interpretação do testamento de D.Manuel que desejou que "todas as minhas colecções constituam um Museu, para utilidade de Portugal, minha bem amada Pátria".
Com base nesta singela frase, Salazar confiscou todo o património, deixando a D.Amélia apenas alguns imóveis de rendimento que possuía em Lisboa, assim constituindo a Fundação da Casa de Bragança.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Funda%C3% ... gan%C3%A7ahttps://www.fcbraganca.pt/patrimonio/pa ... historico/D.Duarte Nuno, pai do actual Duque de Bragança, pronunciou-se contra este confisco, mas sem qualquer êxito.
Curiosamente, pela 1ª vez, fez-se ouvir a suposta meia-irmã de D.Manuel, a auto-intitulada "Maria Pia de Bragança"/Hilda Toledano a reclamar-se como herdeira do irmão.
Não teve melhor sorte.
Apesar de recusar qualquer apoio económico ao único ramo sobrevivente da Família Real, qual aranha, Salazar ia tecendo a sua teia para garantir alguns fundos aos Bragança, desde que não tivesse que ser ele "a pagar o pato".
A 2ª Guerra Mundial tinha deixado a família de D.Duarte Nuno ainda mais empobrecida e era preciso que a Família Real tivesse um estatuto à altura dos seus pergaminhos e se pudesse equiparar aos seus pares.
Para isso, era preciso arranjar-lhe algum património.
Em 1945 nasce o primogénito de D.Duarte Nuno, D.Duarte Pio.
Salazar correspondia-se assiduamente com D.Amélia que o apoiava a 100% e o considerava a pessoa certa para o posto.
Apesar da antipatia que a Rainha votava ao ramo Miguelista, Salazar teve artes para convencer a velha Rainha a aceitar ser Madrinha do recém-nascido e a fazer deste seu herdeiro, deixando-lhe a totalidade das suas propriedades em Portugal, prédios antigos, de rendas baixas, mas na zona mais nobre de Lisboa.
Afinal, a Rainha não tinha herdeiros directos, sendo viúva, sem filhos. Tinha duas irmãs vivas: a mais velha, Isabelle, duquesa de Guise, era mãe do seu sobrinho Henri, casado com uma prima Isabel de Orleães-Bragança, cuja irmã, Francisca, era a duquesa de Bragança, mãe do neófito.
Ficava tudo em família
Com a revogação da Lei do Banimento em 1950, pretendendo manter a Família Real afastada de Lisboa, Salazar incumbiu a dócil Fundação da Casa de Bragança de ceder o Palácio de S.Marcos em Coimbra para residência oficial da família de D.Duarte Nuno desde o seu regresso em 1954 até à sua morte em 1975, cessando de imediato esse benefício com a morte do duque.
A isto se resumiu a "cedência" pelo Estado das antigas propriedades dos Braganças à Família Real.
Todas as propriedades que actualmente detêm foram adquiridas ou provêm de doações ou da herança de D.Amélia.